terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

1 mês de Argélia…

Toca a acalmar as almas que não sabem nada destas minhas aventuras…


“Como é a cidade?”
“Como são as gentes?”
“Tens de andar tapada?”
“E o terrorismo?”
“E comidas?”
“E as noites?”
“E as casas de banho?”
“E onde estás a morar?”
“E a malta com quem te dás?”




Alger, la blanche, toda caiadinha de branco com portadas azuis, e cinzentas, tem aquela luz de Lisboa, numa manhã já tardia, fria, mas de um sol intenso a raiar nuns olhos que mal se conseguem abrir; Tem a luz de um meio-dia no cimo de uma pista de ski (>suspiro<), coberta da neve caidinha no dia anterior, prestes a ser vivida numa velocidade… aqui, tudo menos constante.









O trânsito é o semi-caos (semi, porque nada bate aquela Maputo maningue nice), carros de todos os tamanhos e feitios, marcas ‘inventadas’, carros podres, carros novidade, limosines-hummer (que eu nem sabia o que eram), há de tudo numa estrada onde não há regras de prioridades, sentidos proibidos, ou hora de ponta fixa. As passadeiras são meras instalações artísticas pintadas sobre o material betuminoso, e conta-se cá a história do primeiro semáforo a surgir em Argel, na comuna de Sidi Moussa, cuja actividade industrial foi abandonada e o pobre do semáforo entretanto fundiu, desvanecendo qualquer influência de sua função reguladora. Atravessar uma estrada a pé, é como entrar num mar bravio: ou se entra de mergulho ou leva-se com a onda nas trombas. Faz-se sinal com a mão, ‘à boss’, para o automobilista deixar passar, como quem agradece antes de passar à frente, e não se hesita! Se não, mais um atropelamento para esta estatística guiness de acidentes. Não há regra. Antes há controlos da policie (HALTE POLICE) aqui e aqui e aqui… nunca ali. Azuis se fizer sol, brancos se chover, verdes se forem do exército, lá estão os GeNinhos argelinos, de espingarda a tira colo, antena na mão, detectora de qualquer manha de bombista…E eis que ora toca a baixar para os mínimos, mais vale é andar sempre com eles, acender a luz interior, passar de mansinho. Lá olham eles para dentro da jaula, de olhos sérios detectam a presença de uma super Rti no meio de Royas dentro do carro … e ‘passez’, já está, pronto pronto, já passou, siga.


Transportes públicos? Há os táxis com preço pré-estabelecido; Os táxis-colectivos, que partilham viagens com vários fregueses de preços variáveis dependendo do taxista, mas até agora, no máximo, e fomos roubados à grande, ficou-nos a 2 euros a cabeça; E o autocarro fica a 15 cêntimos a viagem! (Tal como o preço de uns croissants muita bons!) Metro e Tram estão previstos … «inchalá» (explicação mais à frente)… como os voos directos da Tap…


Todos os tamanhos e feitios, têm estas gentes também, há de tudo, só aquele turista de calçãozinho, chapéu, meiinha branca e birkenstock é que ainda não vi… Não há grande turismo aqui. Como tal o mais parecido que se vê ao tótóturista é, mais uma vez, a Rti baixinha branquinha, olho claro, despenteada e sem maquilhagem («Que escândalo» pensam elas; «!!!!eh gazelle…» nem quero imaginar o que pensam eles), que anda sempre com um branquelas barbudo com alta cabeleira encaracolada e óculo de sol à só estilo («uhlahlah» pensam elas, «grrrrrrr» ou «ahahaha» pensam eles).


Mas voltando atrás. Bem esmiuçado, são como os gelados, de todos os sabores, tamanhos e coberturas: Elas. Contra a barriguinha e o presuntinho avantajados aqui não há preconceitos. Aqui gordura é formosura, e piropos é coisa que não lhes falta. Já contra o cabelo encaracolado ou mesmo, no limite, contra o cabelo e as orelhinhas, não se pode dizer o mesmo. Há uma grande diferença comportamental do dia para a noite. Durante o dia, no meio de algumas jubas à mostra, surgem como cogumelos, cabeças aqui e ali, de cabelo coberto e a esconder as orelhas com um lenço ora preto, ou de cor, ora estampado, ora com brilhantes ou ganchos e alfinetes. Umas usam até o 'adereço da gripe A' – lencinho branco (bico de pato) a tapar nariz, boca pesoço. E no meio de tanta multi-tète-color irrompe um ou outro fantasma ambulante, de ‘burka’ (julgo ser esta), mulheres cobertas de cima a baixo, de cores escuras, luvas pretas, lenço preto a tapar toda a cara, até mesmo os olhos. Já de noite, as que ousam não ficar em casa, despem-se de preconceitos, e mostram tudo o que cuidam com milhentos preparos de cabeleireiros, plásticas e maquilhagens… maior parte dos casos, mostram até demais. Já Eles, andam de mantos e chapelinhos, sandaleca, e barba comprida ou então, há o oposto, o look à CR meio lambidinho.


Mas há de tudo. O lencinho na cabeça não impede as excentricidades dos sapatos de salto agulha fininhos ou ténis allstar.
Tudo influencia o visual, sinal de grande variedade cultural e um desejo de abertura, à sua maneira, às diferenças, ao contrário do que se possa pensar.


‘Les touristes, Soyez le bien venus’ acenam-nos por vezes nas ruas. Outros olham seriamente, outros com ar reprovador.
Todos nos tratamos por Roya e Rti, que quer dizer irmão e irmã, seja em que situação fôr.
Salamaleuk Rti, labess (olá schwester, tudo bem?)?

Inchalá (oxalá, Deus queira ou graças a Deus), também usam para todo o tipo de respostas e promessas que não se vão cumprir, pelo menos a curto prazo.

Os homens ao darem um passou-bem, batem seguidamente com a mão no coração à Pedro Abrunhosa, e se forem mais amigos, dão beijinhos na cara uns dos outros, festinhas, andam de mão dada… Mulher é que nunca se beija! E ainda bem… a julgar pela auto-estrada de muitas faixas em algumas dentições, ui! …brincadeirinha…devia era ser assim em todo o lado!

E Comidas? Come-se muito bem! E é acessível, se não se estiver cá com esquisitices. Já fomos a uma ‘cantina’ de operários, não havia sequer faca e garfo (mas para nós fizeram-nos uma atençãozinha), o que nos ficou a 1euro e meio por cabeça, a bela da showarma ou filet de bouef grelhado ou a sopa de peixe. As espetadas que as há por todo o lado, ficam a 2euros e meio no mínimo. Não se come porco mas come-se muito carneiro, cabrito ou borrego, vaca, peru e frango. Há peixe e marisco do mediterrâneo, principalmente nas comunas mais na costa. Couscous, já comemos em restaurante típico, mas segundo consta não há melhor couscous que aquele que se come em casa de argelino, quando nos convidam, que é frequente, é um povo muito hospitaleiro. E no fim de cada refeição Thé Mijon (maison) , feito hortelã de colheita própria, vertido em copinhos com um bule que se levanta a um metro de altura, para ‘oxigenar’.

Álcool, é caro, a religião não consente o consumo, mas há produção aqui no país e lojas e restaurantes que vendem e servem. Pode-se até encontrar Superbock importada, mas escondida em caneca para não dar nas vistas.

As noites de folia não são inexistentes, conhecem-se poucos sítios ainda, o Triangle (com 3 salas duvidosas- disco, tradicional e jazz) , e os cafés e discos dos hotéis Pacha e Sheraton, mas certo é que o que se esconde de dia, revela-se à noite.


Quanto às casas de banho… ui… é assunto delicado… e turco … Falemos de outra coisa.

Terrorismo? Até agora surge-me como mito. Nos anos 90 acho que era coisa séria. Agora, Argel principalmente faz um controlo muito apertado com os Geninhos sempre à coca. Tirar fotografias é problema sério… então quando é para o trabalho, que no fundo é para o bem da cidade que nos contratou, torna-se mesmo muito frustrante, … é contraditório, e ter uma arma apontada à madame por tirar fotos … hmmmm

À euforia do futebol, não se pode chamar terrorismo, embora se veja uma transformação total quando a Argélia ganha… ou perde! One Two Three Viva l’Algerie! Até as mulheres saem à rua a gritar o Yuhuyuhuyuhuyuhu!


Terroristas, no entanto, conheço um quarteto fantástico que anda aí a aterrorizar as argelinas! Primeiro éramos dois compinchas arquitontos. Depois formámos um quarteto fantástico com um jovem casal (ele, engenheiro, brevemente sr. presidente e ele, gestor, brevemente casado), quarteto, que entretanto foi invadido por um embaixador alienígena meio surdo =).


A língua que usamos para comunicar, em todas as aventuras, é algo que temo vir a influenciar altamente as conversas futuras com o mundo lá fora: ‘gajas e futebol’. Digamos que isto é para mim um doutoramento, e que depois dos 6 meses, meine liebe CABI, Ihr seid die beste Freunde der Welt! und sogar ich werde Euch Manelartigesprüche beibringen.




A comunidade portuguesa aqui, não é assim muito grande, pelo menos ainda não me apercebi de tal, mas penso que temos uma crème de la crème com:

O pai de toda comunidade, o grande 'Sr. M.' que me recebeu, com mil e uma atenções, que me tem dado guarida, nesta que é uma zona de embaixadas, ‘El Biar’ que é como um Restelo (mas com arames farpados eheh), e que nos orienta a todos para as melhores referências a nível de restaurantes, lojas de dvds (malta! As mais recentes novidades, tuuudo a 1 euro/euro e meio), supermercados (conceito ainda estranho, por cá) e tudo mais. E embora me diga sempre "ã?ouço mali", aqui vai mais um Muuuito Obrigada que nunca se há de calar!

O popular chefe "ehpah não"-Jack, a quem ainda não me habituei a tratar por tu ehpah-não-você.

E a malta dos ‘caminhos subterrâneos’, com uma grande companheira de luta!, três compinchas de festas, jantares e bola.

E malta argelina? Honra se faça ao nosso ‘Roya-BD-lá’! É a comédia, meu ‘leal súbdito’, lol, que todas as manhãsinhas passa cá por casa a apanhar-nos para irmos dar milhentas voltas à wilaya em trabalho, a ouvir fado adaluz, cabylie ou Carlos Paredes; E que daqui a umas horas já cá está a ligar-nos, à porta para nos apanhar… e é melhor eu acordar!

Como vedes, está tudo bem. Muito bem! Um bem haja a todos!